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Fé, deuses, mitos e crenças

Pontos comuns entre religiões de diversas regiões e dicas de como montar uma base teológica para suas sociedades fictícias

A origem da religião e o primeiro deus são assuntos de controvérsia. Acredita-se hoje que as primeiras manifestações religiosas tenham acontecido na idade da pedra, antes de o homem se organizar em sociedades fixas, não-itinerantes. Provavelmente, a primeira atitude religiosa do homem foi o naturalismo, a adoração de objetos e fenômenos da natureza. Ao não compreender tais fenômenos, ele passou a explicá-los com fatos e histórias sobrenaturais, dando sentido ao mundo que ele via. A seguir, ele passou a reverenciar o espírito ou alma.

A partir daí o homem sentiu a necessidade de controlar tais elementos. Era de grande valia, por exemplo, prever quando as chuvas cairiam, para que a produção dos alimentos fosse eficiente, por isso o ser humano passou a tentar manipulá-los, criando rituais e encantamentos, usando o conhecimento disponível na época. Mais tarde, ele passou a cultuar seus antepassados, o espírito, e passou a atribuir qualidades paranormais a um único indivíduo dos grupos, criando as figuras análogas aos xamãs ou pajés. O sacerdote passou a ser a ponte entre a Terra e a morada do além.

Várias culturas também acreditavam que os animais fossem divindades. Como resultado dessas crenças, o homem criou métodos para prever o futuro, como a astrologia, a quiromancia, os oráculos e a necromancia, e também técnicas para modificar o destino, agrupadas como formas de magia, bruxaria e encantamentos.

As religiões foram usadas para suprir algumas necessidades dos agrupamentos humanos. Ela foi uma importante ferramenta, por exemplo, para líderes justificarem porque certos atos eram aceitáveis e outros não. A religião explicava, por exemplo, porque matar alguém era ou não era perdoável, porque ter relações com o parceiro alheio era ou não permitido, porque o incesto era ou não aceitável, etc.

Outra necessidade foi, como já dito, a de explicar o mundo ao redor do homem, dando sentido a fenômenos naturais extremos ou não cíclicos, como raios, tempestades, passagens de cometas, terremotos, ou mesmo doenças ou bênçãos.

Outro auxílio das religiões foi na transmissão de conhecimento de uma geração para outra. Em um tempo anterior à linguagem escrita todo o conhecimento era passado de forma oral, e através da contagem da história dos seus deuses a história do povo, seus costumes e tradições, era passada de geração para geração.

Tipos de religiões atuais

Hoje é possível classificar as religiões em alguns conjuntos:

Monoteístas: as que admitem a existência de um deus único, um ser supremo;

Politeístas: admitem a existência de mais de um deus;

Ateístas: apesar de ateísmo não ser uma religião, é uma característica de algumas religiões que não acreditam em deidades. É o caso do budismo, do confucionismo e do taoísmo.

Ateísmo é a negação da existência de qualquer tipo de deus e a veracidade de qualquer religião teísta (que crê em Deus ou deuses).

Agnosticismo é a dúvida sobre a existência de divindades e sobre a veracidade de qualquer religião teísta por falta de provas favoráveis ou contrárias;

Deísmo é a crença em um deus que só pode ser conhecido através da razão, e não da fé ou da revelação.

As religiões, assim como outros traços da sociedade, como produção cultural, visão política e mesmo estudos históricos, são interpretadas individualmente pelo seu adepto, que a vê e segue da forma que acha adequada.

Pontos de convergência

Entre as diversas religiões existem algumas características em comum e, para um criador de uma sociedade fantástica, é de grande serventia conhecer tais pontos para ter uma base de onde partir na concepção de uma crença fictícia.

1 – Boa parte das religiões tem um livro sagrado com a compilação das escrituras tidas como verdades que irão orientar as práticas dos fiéis. Como exemplos podemos citar a Bíblia, o Alcorão, a Torah, os Vedas, a Cabala, o Sutra, etc.

2 – A maioria das religiões possui uma simbologia associada às práticas religiosas;

3 – É comum que exista um templo, um altar, um local destinado à prática da fé e tido como sagrado e inviolável;

4 – Muitas religiões exigem sacrifícios e oferendas de seus fiéis. Antigamente era comum que estes fossem sacrifícios de seres vivos, inclusive sacrifícios humanos, de virgens ou crianças. Hoje estes ainda existem, mas é mais comum encontrarmos sacrifícios menos destrutivos, como o jejum, as penitências, ou o despojo de bens materiais. Oferendas também são comuns, e podem ser em dinheiro, alimentos, boas ações, ou itens que a fé em questão acredite que o deus, os deuses, ou outras entidades divinas, irá ou irão gostar;

5 – Na maioria das religiões há uma hierarquia entre os sacerdotes maiores e menores, relativas ao grau de proximidade deles com o divino;

6 – É quase consenso geral a crença na vida após a morte, muitas vezes tendo o local para onde vai a alma sendo escolhido de acordo com o merecimento adquirido nesta vida;

7 – Grande parte das crenças pregam a existência de um ser antagônico, um demônio, uma entidade perversa, um ser capaz de punir aqueles que não seguem as regras da religião corretamente;

8 – Boa parte das religiões monoteístas, que não possuem um panteão ou mais de uma divindade, têm outros entes divinos em sua crença, dignos de receberem orações, oferendas e atenderem pedidos. É o caso dos anjos e dos santos, por exemplo.

9 – As religiões possuem grandes narrativas, que explicam o começo do mundo ou que legitimam sua existência – uma cosmogonia, normalmente transcrita em seus textos sagrados. O exemplo mais conhecido é, talvez, a narrativa da Gênesis da tradição judaico-cristã.

10 – É comum que exista uma figura histórico-mítica à qual seja atribuída a revelação de todos os ensinamentos da religião, sendo esta figura a fundadora da fé. No budismo, por exemplo, Buda alcança a iluminação após meditar por um longo período sob uma figueira, e assim conhece a verdade que propaga através de seus ensinamentos; no islamismo, Muhammad recebeu a revelação do Corão diretamente de Deus.

11 – Muitas religiões creem que os seres divinos influenciam e interferem na vida dos seres humanos. Se nas mais antigas os deuses agiam diretamente, transformando-se em homens comuns, em animais e até em fenômenos da natureza, hoje esta intervenção costuma se dar pela concessão de um milagre através de seres iluminados, sejam santos, anjos, médiuns, etc., que teriam mais facilidade de comunicação com o reino divino;

12 – Da mesma forma, existe a crença de que os seres espirituais também podem influenciar na obtenção de vantagens que sejam maléficas a outras pessoas. Tais concessões são atribuídas frequentemente a entidades inferiores, demoníacas ou traiçoeiras, que muitas vezes cobram seu preço pelo desejo concedido.

Com tudo isso em mente, seguem algumas dicas para criar seu sistema religioso fictício:

1 – Defina se o sistema será monoteísta, politeísta, ateísta, ou alguma variante inédita;

2 – Quem é “deus” ou quem são os “deuses”? Crie a figura central ou seu panteão principal, com nomes e descrições de suas representações, caso existirem;

3 – Crie a cosmogonia: a história da criação do seu mundo e dos seus deuses;

4 – Quem fundou a religião? Como é vista a figura fundadora da religião? Como mártir? Santo? Profeta? Iluminado? Ditador? Sábio? Alguém que transcendeu as barreiras naturais? Qual é sua história?

5 – Existe um livro sagrado? Como se chama? Que informações ele contém? Instruções para seguir a fé, a história da criação do mundo e do deus ou dos deuses, a previsão da destruição final do mundo, revelações sobre a vida pós-morte, o que mais? Ele é de domínio público ou apenas os sacerdotes têm acesso a ele? Por que o acesso é público ou restrito?

6 – Defina o sistema de adoração: há dias específicos? Um local específico para orações? É preciso fazer uma prece especial, entoar uma canção, é necessário separar mulheres, crianças, enfermos, idosos, para as orações? Todos participam juntos dos cultos? É necessário fazer algum sacrifício em um dia especial? De que tipo? O que acontece com quem não os faz? Há rituais? É preciso fazer uma iniciação para entrar para o culto ou qualquer pessoa pode entrar?

7 – Defina a hierarquia do clero: quem são os religiosos mais experientes, os iniciantes, quem é a figura superior. Quais as funções de cada cargo?

8 – Como a religião se encaixa na sociedade? De onde vem a verba para a manutenção dos religiosos? Como os sacerdotes são vistos pela política, pela magia, pela ciência? Ela é regra na vida das pessoas? A maioria das pessoas não a segue e despreza os fiéis? Magia e religião não se misturam? Ou a magia faz parte da religião? Políticos e religiosos são aliados ou inimigos? Que poder os sacerdotes têm na vida dos homens comuns?

Com estas dicas, um punhado de canetas e papéis e um bocado de dedicação, é possível criar um sistema religioso crível e aplica-lo ao seu mundo fictício, de modo a incrementar a submersão do leitor em seu mundo fantástico.

Fontes:

livrodeusexiste.blogspot.com.br/2010/04/como-tudo-comecou-primeira-religiao-e.html

grupoescolar.com/pesquisa/quando-foi-criada-a-religiao.html

www.sohistoria.com.br/ef2/ccr/p1.php

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