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Deus ex Machina


O que é este recurso narrativo, alguns exemplos de uso e dicas de como evitá-lo

O termo Deus ex machina significa literalmente “Deus surgido da máquina”. É um termo em latim que tem origem no teatro grego, quando soluções divinas e improváveis surgiam nos instantes finais de uma peça para explicar o que estava acontecendo e também solucionar a trama, desatando os nós e esclarecendo todos os enigmas.

Nesta época, surgia um personagem que personificava Deus ou um dos deuses gregos, um ator que era baixado de um equipamento elevado, como um guindaste, para consertar uma trama que estava tão intrincada que só uma solução divina conseguiria resolvê-la a tempo do final da peça.

Um exemplo é a peça “Medeia”, de Eurípedes. Nela, Medeia vai ser punida por ter matado os próprios filhos, mas o deus Hélios, avô de Medeia, aparece de um sistema de gruas por trás dos andaimes no fundo do palco — o deus surgido da máquina — e a salva, elevando-a nestes andaimes.

Hoje esse termo é usado para indicar soluções impensáveis e implausíveis para resolver tramas geralmente incoerentes, ou oferecer soluções miraculosas para intrigas que normalmente demandariam mais tempo e trabalho para serem desvendadas.

Os adeptos de tais soluções podem argumentar dizendo que mesmo na vida real circunstâncias miraculosas acontecem, e resolvem questões sem a necessidade de intervenções dos interessados. Embora exista esta ressalva, o uso deste recurso normalmente é associado a falta de capacidade criativa do narrador para resolver os conflitos que ele mesmo criou.

O site NINTENDOBLAST, por exemplo, diz que o surgimento de um deus ex machina estraga a lógica e estrutura da história. “De que adianta criar todo um universo só para jogá-lo fora com um acontecimento totalmente desconexo?

Um problema adicional é que este recurso tira a força do protagonista. Se este protagonista passa toda a história lutando para conseguir um objetivo, mas no final é um evento externo e aleatório que leva o objetivo até ele, os esforços do personagem soam vazios e despropositados.

Por exemplo: um policial passa anos investigando e perseguindo um serial killer. A trama chega no ápice e o policial descobre o esconderijo do bandido, em um galpão com uma centena de outros criminosos de alto calibre e com muita munição. Ele tenta elaborar um plano para prender o assassino…

Mas um terremoto abre uma cratera e engole o galpão com toda a corja dentro. O policial fica feliz, mas, efetivamente, não fez nada para parar o vilão.

Outro exemplo: adolescente passa anos treinando o controle de sua magia para destruir um feiticeiro a quem está destinado a confrontar. Quando o momento do embate se aproxima, fica claro que o jovem não tem poder para vencer e sua morte é iminente…

Então surge, do nada, um dragão, cospe fogo no inimigo e entrega ao herói um amuleto mágico hiperpoderoso nunca antes mencionado, e o herói vence. Os anos de treino, a tal “escolha” daquele garoto como herói, em nada influenciaram na derrota do vilão. Qualquer outro poderia ter feito o que o protagonista fez.

Viu como este recurso pode enfraquecer seu herói?

Por outro lado, há casos em que o deus ex machina pode funcionar muito bem. Comédias, com eventos absurdos e inesperados, ou thrillers carregados de ação, casam bem com o deus ex machina, já que qualquer acontecimento mirabolante está dentro do contexto.

Deus ex machina é considerado um recurso preguiçoso e que enfraquece seu protagonista.

Usando a classificação habitual para deus ex machina em narratologia, existem três níveis de deus ex machina:

Nível Total: em que não há menção alguma ao elemento apresentado como solução até seu surgimento.

Como exemplo temos Guerra dos Mundos, quando, após todas as tentativas de rechaçar os alienígenas invasores com as armas disponíveis, as máquinas param de repente, subjugadas por bactérias.

Nível Incoerente: o elemento que soluciona o dilema final foi citado anteriormente e tem poder para realizar o desfecho, mas a probabilidade de que ele o fizesse é baixa.

Um bom exemplo é o primeiro filme Jurassic Park, onde o T-Rex, providencialmente, surge para salvar os mocinhos, devorando os outros dinossauros menores que estavam prestes a abocanhá-los.

Cortar e colar: é quando o narrador, após o enredo, volta atrás no tempo e explica como o elemento era capaz de resolver o conflito, acrescentando informações após o clímax.

Artifícios para evitar apelar para deus ex machina

Existem dois recursos de que o escritor pode se valer para evitar apelar para a solução miraculosa. São eles:

Arma de Tchekhov

Basicamente, ele diz que se há uma espingarda na sala de estar na cena inicial, ela deve ser disparada no final da história. Ou seja, o elemento surpresa deve ser apresentado em algum momento inicial, e deve existir algum indício de que este vai ganhar importância ao longo do texto, culminando para se tornar a peça chave do desfecho.

Arenque Vermelho

O nome vem de um peixe usado para confundir o olfato de caçadores e cães, devido ao cheiro desagradável de sua carcaça. Indica um elemento que está presente o tempo todo, mas que é disfarçado de tal modo que o leitor não saiba que ele é importante. Quando a dissimulação termina e o elemento é apresentado como a solução, o leitor vê que a solução estava diante dele o tempo todo. Uma dica é criar vários elementos com potencial para a solução, e usar apenas um ou alguns para efetivamente resolver os conflitos.

E se o deus ex machina costuma ser visto com maus olhos, o diabolus ex machina normalmente é melhor digerido pelos leitores / expectadores. Este é o elemento externo e inusitado que surge não para ajudar o mocinho e consertar a situação, mas para piorar as coisas de vez. Filmes de terror e de ação são cheios desse tipo de situação.

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